segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Tempos Modernos

Sempre me inspiro nas impressões do meu dia-a-dia para escrever meus textos.
E dessa vez a inspiração veio de uma caixa de ‘segredos’ que guardo há anos, da época de adolescência (que durou mais do que o normal), quando eu escrevia muito em agendas. Tenho agendas de 1995 até 2006, depois minhas obrigações de provedora me fizeram esquecer, deixar de lado. Encontrei cartas de amigos, sim, cartas mesmo, daquelas que chegam pelo correio e que ninguém mais manda. Ri alto com um pedaço de carteira de escola, onde uma querida amiga expressou todo sentimento de amizade por mim, com simples palavras, simples e marcantes. Chorei ao encontrar um coração de ferro, feito por um ‘eletricista ainda apaixonado’, como diz no bilhete que veio junto com ele.
Tudo ficou tecnológico. Ninguém mais tem caixas de segredos, tem caixa de e-mail. Ninguém mais gosta de álbuns de fotografia, guarda no pendrive. Aí comecei a pensar em tudo que se ganha e que se perde com a tecnologia. Adoro a tecnologia, me fascina quantas coisas são criadas para ‘facilitar’ a vida. Acho que a maior vantagem é a economia de tempo, afinal, ninguém tem muito e se economizar, melhor ainda. Mas e as desvantagens? O que perdemos com isso tudo? Muito, podem acreditar. Hoje a gente guarda tudo no computador, mas se um ‘bug’ acessar seu sistema se perde a maioria de tudo e, pior, se um hacker rouba seu e-mail, adeus palavras lindas dos seus amigos ou amores. Então você pensa: “Ah, mas tenho tudo guardado na memória!”. Sinto muito, com o passar do tempo, muitas coisas importantes se perdem na nossa memória em meio a tanta informação absorvida todos os dias e, sinto mais ainda, mas cartão de memória para cérebro ainda não inventaram. E precisamos do nosso passado, foi ele que moldou o que somos hoje.
Fiquei lendo as agendas, uma por uma, lembrando de tantos ‘únicos amores’ que tive, ‘melhores amigas’ que quando eu realmente precisei, não estavam ali, quantas ‘melhores festas da minha vida’ em que fui, todos os erros que cometi que, na época em que foram cometidos, pareciam a atitude mais acertada. Nossas lembranças são, sem dúvida alguma, o manual da nossa vida. O controle remoto das nossas escolhas. Nessas lembranças estão as instruções que devemos seguir e aqueles botões que nunca mais devem ser apertados.
A tecnologia nos oferece muito, mas nos tira a proximidade. Antes, a gente tirava uma foto com um amigo, corria para revelar e dava de presente com uma dedicatória escrita à mão e ‘à emoção’. Hoje, a gente dá um porta-retrato digital ou colocamos no orkut com um singelo comentário. As professoras não passam mais trabalhos em grupo, pedem para pesquisar na internet. Os pais não contam mais histórias para o filho dormir, compram um cd com elas, coloca para tocar e apagam a luz. Vemos arranjos de flores lindos enfeitando ambientes, de plástico. Ok, já dizia os Titãs: “As flores de plástico, não morrem.” Mas também não possuem perfume.
Adoro nossos tempos modernos, mas conservarei pra sempre minha tão amada caixa de ‘segredos’. Ela diz muito mais sobre mim do que meu orkut.

Sexta-feira, 13 de Novembro de 2009.

Um comentário:

Hélia Barbosa disse...

Que texto, hein, amiga!!

Muito verdadeiro e atual...

Também fico às vezes horas e horas olhando minhas caixas com lembranças de tempos passados e de amigos...

A tecnologia nos trouxe coisas boas, sim, muitas! Afinal, nos permite conhecer e encontrar pessoas que nem supúnhamos que existissem...

Mas tem esse lado ruim, do não palpável e que nos faz tanta falta!!

Falta um pouco de romantismo...

Parabéns, ficou demais!!

Beijos!!